Diário de bordo
do Capitão Salazár
do navio Las Hermanas
Dia 2
Já estamos bons.
Gosto de comer as coisas com a mão. É importante uma intimidade com a comida. Estamos na cozinha, provando o bolo de Pedro. Dom Ortis e ele disputando pelo pedaço que deixei.
- Pode ficar com ele, Villa - diz Ortis e começo imediatamente a rir.
- Está com pena do gordinho - digo repetidamente, gargalhando. Dom Ortis rindo também.
- Estou honrando o título de laricoide - diz Dom Villa, sobre si mesmo.
Divertido ver Dom Villa a conversar com sua sereia. O quão desastroso isso acaba sendo.
De tempos em tempos sempre encontramos uma sereia depressiva. Dom Villa, como um toreiro, tentando cravar suas estacas cor-de-laranja no couro de um animal. Um toreiro Paniqueño. E o touro vai para cima dele e o machuca com seus chifres.
O toreiro Paniqueño então percebe que foi longe demais e tenta se retratar. Mas já é tarde e o touro foge. Esta metáfora é que foi longe demais.
Não está mais expressando coisa alguma.
Peço a ele que pegue leve. Provocações têm limite, Villa.
E ela para de falar, após uma grande ofensiva de Pedro.
Achamos que ela acaba de se matar, pelo silêncio. Rumando para a gruta dos tubarões assassinos. Para virar comida de peixes. Não responde mais através das águas. Talvez Dom Villa esteja muito acostumado na pesca de seus peixes e tenha considerado esta sereia como tal.
Dom Salazár
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