terça-feira, julho 5

¡Antropófagos!

Diário de bordo
do Capitão Salazár
do navio Las Hermanas
Dia 1


Cerca de 22:00, horário do Pacífico, creio eu.
Estou muito bêbado de tequila.
Las Hermanas bufando em meus miolos.

Disseram que estou criando escudos. Que fico provocando a todos mas não gosto de ser o provocado. E eu como bom mexicano devo zelar pela minha masculinidade, cabrón. Tudo o que digo é muito ambíguo. Isso é bom, creio eu. Muitas formas de leitura diferentes. Isso poderá tanto me salvar de tempestades quanto me afogar na correnteza. Ossos do ofício, meu marujo. Mas vou deixar de lado os escudos e dizer que venham todos me experimentar, para verem do que sou feito. Que aproveitem e chupem este meu mastro.
¡Mas que bando de piratas antropófagos!
Fui para as câmaras pegar um sono e dei de cara com Dom Ortis nos corredores.
Em alto e bom som no meio da noite - ¡Buenas Noches, muchacho!
Tudo bem, admito. Eu estava gritando isso.
Repare como estou bêbado de tequila.
Las Hermanas bufando em meus miolos.

Dom Salazár

Salazár

Diário de bordo de Pedro Villa

(...)


Hoje aconteceu algo engraçado enquanto estávamos na mesa. Não lembro direito o motivo, mas Salazár se tornou mais sensível do que pude imaginar. Como num toque de fada, ele foi capaz de imitar uma borboleta em perfeitas condições com o complemento de uma frase: -EU SOU TODO FANTASIA!!
Não lembro de rir tanto há um bom tempo, de fato foi engraçado, e sua encenação teve a pose de borboleta devido aos braços que se recolheram tendo a ponta dos dedos nos ombros, peito estufado, e voz fina -mulherzinha-, falando entre risos.
Todos riram exceto Galagueñas que estava a escrever bilhetes enquanto navegava.
Escrevo aqui para que fique armazenado e assim, sempre que quiser ler e relembrar, conseguirei!-e claro, rir um pouco da cena.
(...)

Com carinho,
Eu os saúdo

À Margarida

Margarida.
Há quanto tempo.
Ainda penso em você, porém com tantas mudanças. Sua face semi esquecida confundem-se por olhos alheios, e sua personalidade, pelas lembranças, está muito mais forte e explicada, porém difícil de prever -sabe como sou, né?-, sinto a falta do seu lado. As lembranças por meio limitam-se em objetos e perdem-se na busca de sensações. Estou alimentado por sua falta...
Enquanto a isso, está tudo ótimo, as viagens seguem de forma satisfatória, cada dia com uma novidade. Os três capitães se dão bem, por mais diversa seja a forma de agir. As reuniões parecem mais divertidas e saudáveis. Nós começamos a nos falar anoite, devido aos compromissos de cada um, mas agora houve uma queda no horário, tendo então a disponibilidade para mais encontros, o que está proporcionando mais conversas e aprendizados. E você sabe né? Galagueñas navegando, Dom Ortis jogando e fumando seu cigarro e Salazár escrevendo. Tudo segue o rumo de forma natural.
Hoje não li o quanto queria mas estou conhecendo novos ares, que irão melhorar minha leitura um dia -buscando desculpas?-. 
E o violão? Bem. Estou treinando mais, dando um espaço maior e aprendendo muito com Salazár. As relações com Galagueñas andou melhorando, ficando mais livre -no momento dorme-. Toro anda ficando mais educado em seu agir, e de resto, a mesma.
As rotinas irão mudar por um tempo, e irei mandar-lhe mais cartas, por estar mais desocupado. Motivos para pensar em você. 
Hoje o dia foi tranquilo, tive boas conversas com Salazár, que o enconntrei logo cedo, batendo em sua cabine, tendo comida especial anoite, e encontro na sala de estar próxima ao local onde Galagueñas fica a viajar. 
Não tenho muito o que dizer. Estou escrevendo neste caderno, para que quando terminá-lo, mesmo com as faltas de cartas, saberá na hora certa o quanto pensei em você.


Com ansiedade


Pedro Villa.

Começam-se las intrigas

Diário de Bordo 
do Capitão Salazár
do Las Hermanas
Dia 1


Um pouco depois da última


Dom Ortis e Dom Villa estão me provocando. Me chamando de borboleta por que fiz gestos estranhos. Enquanto dizia - ¡Sou todo fantasia!
¡Me referia a meu ofício de trovador lunático, maricones!
Isto tudo para esconder o que eu ia dizer sobre ele.
Brincando sempre com as sereias da noite.

Dom Salazár

Cartáz pregado na parede da sala de máquinas



História de Dom Villa, El Paniqueño Errante:


Pedro Villa, mais conhecido como El Paniqueño Errante, saiu do vilarejo de Paniquéia, aos dezoito años para o mundo. Seu vilarejo cria todos os seus habitantes masculinos como Paniquettas. Uma linhagem de garotos castrados. Seres de grandes mamilos, sempre trajando cor-de-laranja. Derivada da antiga linhagem Paniquettes Mostrando Tetas. Em suas caminhadas pelo mundo, encontrou Mike. Mike Dorno Toba, irmão de Miko Meiro Toba e Jacinto Aquino Toba, grandes artistas no ramo da tatuagem. Dom Villa provou suas agulhas na própria pele. Miko Meiro Toba era uma mestiça de mãe japonesa.
Um dia após tê-la experimentado, Dom Villa continuou sua viagem e encontrou Toro, el pero loco e o levou consigo. Ele foi então correndo pelo cais, com seus latidos, arrastando Dom Villa para um barco de piratas mariachis. Desde então vem vivendo conosco.

El grande Dom Villa,
que receba meu respeito

Dom Salazár

¡Saludos compañeros!


Primeira Entrada no
Diário de Bordo do
Capitão Salazár a bordo
do Las Hermanas.

Dia 1
20:10, horário do Pacífico

Estou abrindo agora Los Laricoides. Se me perguntarem assim: Dom Salazár, que estás haciendo ahora? Estoy abrindo Los Laricoides, volto já, Señorita Salazár. 
Somos aqui em quatro. Quatro e meio, na verdade. 
Dom Almeida Ortis - lo que siempre ten los vierdes. Siempre vierdes. 
Dom Noel Galagueñas - el lobo-urso de la rede. 
Dom Pedro Villa - el paniqueño errante.
e Toro - el pero loco.
Soy Dom Salazár, el trovador lunatico.
Estamos en Las Hermanas, nossa embarcación. Estoy escreviendo para ustedes. Dom Villa está a brincar com cartas. Dom Ortis está checando os controles.
Dom Galageñas, como siempre - navegando. 
Toro dorme em suas cobertas. Está mais quieto hoje. Todos mais quietos hoje. 
Fiquei agora sabendo por Dom Ortis que é só possível estabelecer contato verbal com Dom Galagueñas escrevendo-lhe um bilhete. Vou seguindo Ortis com seu bilhete, pelo convés. Dom Galagueñas, como de costume, sentado no beiral, observando o mar. Entrega-lhe o bilhete Dom Ortis. Estou petrificado de terror e Dom Ortis dizendo a Galagueñas que não estou acreditando no que vejo. Os dois começam a rir e Dom Galagueñas chega a falar algo direcionado a mim. Não posso entender o que ele diz, estou aterrorizado com o fato de ele estar falando. Sua voz é estranha e me enruga os ouvidos. 
- Ora, ora, estou apenas brincando com usted, Dom Galagueñas - digo, depois do silêncio, dando-lhe uns tapinhas nas costas.
Estava fingindo o meu terror. Quis brincar com ele, no velho estilo dos piratas lunáticos. 
Ele volta a olhar seu mar. Dom Ortis volta para os controles do navio. 
Paro de escrever e vou ver estrelas.

Dom Salazár