sexta-feira, julho 8

A idade do diabo

Diário de bordo de Dom Villa

lembrete de uma conversa que tivemos em um de nossos encontros...


Em viagens de outros tempos, me recordo de uma história. Tudo fazia sentido para que essa história tornasse -diante de nós- real.
Estava em um porto, num trabalho simples, juntando dinheiro para voltar. Conheci homens bons e sensatos, por mais que tivessem errado em vida, eu via o quanto era dignos de honra. Cada um com sua história, que um dia contarei aos detalhes, mas hoje, irei falar de Belzebu.
Construindo a casa, em meio a risos e esforços físicos, trocamos conversas sobre curiosidades e essa veio a calhar em minha memória, como sóbrio, devo contar.
As palavras serão aproximadas, pois a exatidão será impossível. Minha memória já me surpreende por lembrar o contexto.
"Você sabe qual a idade do diabo? Me perguntam.
Não, não creio muito nele, mas não duvido de sua entidade.
Pois é, grande amigo -em tom de conselhos-, seria bom considerar suas atitudes, pois agora vou lhe contar algo que descobri sobre ele.
Há muito tempo, em tempos errantes, um homem precisava de dinheiro, por mais que o proibissem, e com isso, nada em terra era capaz de superará-lo. Pela busca do sucesso, resolveu ir em busca do Diabo, para oferecer-lhe um acordo.
-Dê-me sucesso e darei minha vida.
O diabo duvidoso, achou estranho, porém muito atraente. Nós sabemos o quanto ele deve a Deus, e com isso o quanto ele sente a necessidade das almas errantes.
-Depende. O quanto você quer viver?
-Mais setenta anos.
Diabo relutante não gostou da proposta e finalizou logo com 40 anos, e deu um presente:
-Eu voltarei quando este acordo cessar, e com isso lhe farei uma pergunta. Se você responder, terá a chance de viver um pouco mais.
E assim finalizou a conversa, deixando no ar, a dúvida da pergunta.
De cara, fez diferença. Em uma semana ganhou heranças, e com isso pode viajar e conhecer o mundo. Estudar e saber sobre a vida, e acabou se esquecendo da importância que o diabo tinha lhe dado. Criou uma família, e resolveu seus problemas, estava em paz. Até que houve o dia em que o perna-torta apareceu, pedindo o que lhe foi sugerido.
-Vim te buscar -foi direto ao ponto.
Contrariado o homem em desespero conseguiu lembrar-se de que o diabo lhe deu uma chance e pediu para que ele fizesse a pergunta. O imortal surpreso, veio a falar:
-Grande homem você! Vejo que não trouxe apenas sucesso, um pouco de inteligência? Sabedoria, talvez? Haha! Ó grande mortal, deixei a dúvida para sofrer e conseguiu superá-la, imaginei suposições suas sobre minha pergunta, mas agora quero uma resposta. Quantos anos eu tenho? -finalizou aos sorrisos irônicos.
O homem, já velho, se surpreendeu com a simplicidade da pergunta e o quanto ela pode ser difícil. Começou a chutar valores, até que num ato de intolerância retrucaram:
-Sua vida não foi tão rica quanto imagina, caro homem. Saiba que sou antigo, muito mais do que você acredita. Está me subestimando. Lhe darei mais duas chances. Irei vê-lo daqui um mês exatamente. E quero a minha resposta.

O diabo desaparece e logo o homem torna a realidade, ao desespero.
Passa um mês pesquisando entre outros homens -que duvidavam de sua curiosidade-, e com nada descoberto -ainda- o maldito volta.

-Ó meu subestimador. O que pede agora? Mais um tempo? De quantos precisa? -insistindo a ironia.
No desespero o homem pede clemência e perdão.
-Agora não dá. Não posso voltar o tempo somente por você, preciso de algo mais. O que teria para me oferecer?
Chorando, oferece a vida de sua família e de todos os que ama.
-Eles fariam o mesmo por você? Para isso terei que verificar e conhecendo, como eu os conheço, não se sacrificariam a tal ponto. Realmente, você é ridículo -rindo alto, gritando aos berros- como foi capaz de viver tudo o que lhe dei e não aproveitar, a ponto de oferecer o que acreditava amar? -agora falando com suavidade e convicção-. Com certeza você merece vir comigo, criei um bom seguidor.
O homem encontra-se aos berros de choro.
-Lhe darei mais uma chance -sorrindo ironicamente-, que tal mais uma semana?
E assim ocorreu.

O homem agora foi para as florestas mais desérticas possíveis, e com seu conhecimento foi capaz de sobreviver durante a semana. Na busca de fuga e esconderijo, ele juntou todas as peles de animais que ele caçou e vestiu, ou complementou alguma peça. Criando assim, uma camada grossa de pele.
No último dia se cobriu de lama, além da grossa camada de peles, e se escondeu.

-Que coisa é essa homem? -surpreendendo o jovem mortal. A que ponto você quer viver? Que ridículo, nunca vi isso... Você está sendo capaz de superar qualquer outro com a bizarrice.
Surpreendido o homem chora, e com isso o diabo o leva.


Após o conto, eu lhe pergunto:
-Então, qual a idade do diabo?
-Não conhece a música? 'Eu nasci... há dez mil anos atrás. Não há nada neste mundo que eu não saiba de mais..."

E essa foi uma das histórias contadas e que hoje eu conto para vocês.
Com grande carinho
Eu os saúdo

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