Do Capitão Salazár
do navio Las Hermanas
Dia 4
Tenho muito o que contar, acerca dos últimos dias. Estivemos ontem visitando Alma Negra em seu barco. Atravessamos três rios com uma balsa, deixando Las Hermanas atracado no Porto Velho, na Baía dos Carangueijos. Acabamos de voltar para o nosso navio. As experiências foram inúmeras. Estarei contando aos poucos.
Antes disso tenho a relatar os acontecimentos de antes-de-ontem. Não escrevi muito neste dia. Estava sonolento demais para isso. Ou então ocupado em conversar com os outros.
Estive, por exemplo, contando a Dom Villa e Ortis, sobre meu treinamento marítimo. Aos oito anos, me aproximando pela primeira vez de um barco. Era de pequeno porte, para turismo. Um homem velho e barbudo. Barriga estufada na camiseta regata. Olhei para ele e disse como chamavam as partes do navio e ele, imediatamente - como que já me tomando como pupilo, me respondeu severamente que não se chama mais o lado direito de estibordo, mas de boreste, na tradição atual. Estava travada a relação mestre e aprendiz. E então, todas as tardes, eu estava ali, para navegar com ele e aprender tudo o que eu pudesse desta arte. Fernando Peres, era seu nome. Mais conhecido como El Sampuesáno, devido a sua origem em Sámpues.
Com mais tempo e experiência - tive que aprender a nadar muito bem, inclusive - já podia ir com ele para as pescas de alto-mar. El Sampuesano tinha dois negócios para sustentar sua família: Turismo, nas águas doces. Pesca, em alto-mar. Um aventureiro.
Me lembro de olhar o mar da praia, nas grandes tempestades que nos antingiam durante o ano, e a imaginar como aquelas luzes no horizonte escuro da noite - os navios de nossos corajosos pescadores - poderiam se safar desta fúria da natureza. Ventos fortes e ultra-rápidos, relâmpagos e raios. Trovões. As ondas podem virar um barco facilmente em uma dessas. Mas me conta El Sampuesano, nesta época, que escondem os navios atrás da Ilha das Cobras Voadoras. Ou então de sua irmã menor.
Grandes rochedos de escudo.
Desde que ouvi pela primeira vez sobre esta ilha sinto um fascínio enorme por ela. Não desembarca nela quem não for cientista. As cobras desta ilha - muy numerosas, cerca de cinco por metro quadrado - são muy peliglosas. Um humano poderia fazer, no máximo, uns dez metros depois de uma picada com seu veneno. E além disso sobem nas árvores. Comendo pássaros, lançando seus corpos esguios para o ar. Voltando com comida.
A Ilha das cobras voadoras. Sempre quis ir até lá. Descer. Observar este pedaço de mundo inalterado pelo ser humano. Sempre imagino que alguém possa estar vivendo lá, em segredo. Um heremita. E que vida maravilhosa deve ter.
Dom Salazár
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