Diário de bordo
do Capitão Salazár
do navio Las Hermanas
Dia 3
Acordado
Salazár está derrentendo. Derretendo muito. A única coisa que pode guiá-lo agora são as luzes.
- Nunca fui tão humilhado em toda mi vida, maricones de miérda! - grito alto para que todos ouçam. Estão me segurando para que eu não faça besteiras. Estou lunatizado e confuso.
- Se acalme, Salazár. Maldição! - diz Ortis, a me dar tapas na cara.
Acordo, no barco de Alma Negra.
Estou passando mal com tanta tequila. Deixando as vísceras na sanita. Alma Negra também, um pouco depois. Fazemos sessões alternadas no banheiro. Porque bebemos a garrafa toda, em dois.
Dormimos os quatro em uma cama improvisada. Todos dormem mas não consigo.
Estoy muy acordado, brincando com o caco de vidro em meu pé esquerdo e olhando as estrelas. Aquele tipo de coisa que se faz quando todos os outros dormem. Olhando no céu a mesma lua que ela. Ao meu lado vejo as faces grotescas de piratas no sono, com suas bocas abertas de poucos dentes e barbas babentas e roncos de porcos. Me incluo nisso.
Quisera eu estivesse Maria Salazár no lugar deles. Estaria dormindo melhor, envolvido em seus graciosos e aconchegantes tentáculos.
Logo, ao amanhecer, constato:
Como acordar Dom Ortis:
Efeito algum se obtém ao jogar-lhe uma coberta em cima de sua carcaça.
Acendendo, entretando, un vierde matinal, desperta imeditamente, a perguntar:
- Mas que cheiro bom é este?
O fantasma de Juan Lenóm, no quadro da parede - grande trovador lendario - começa a derrubar coisas da mesa. Parece que passei pelo ritual de iniciação noite passada.
Desco ao cáis, para a cidade. Para buscar uns pães e limões, para as nossas ressacas. Vejo velhos estranhos, que me confundem, com seus pedidos.
- Por favor, abra esta porta para mim, meu jovem. Não, não é para abrí-la assim. Apenas abra esta porta. Ando entre os malucos de rua e compradores de ouro. Não tão diferentes de nós, os primeiros.
Somos malucos do mar.
PS.: Como acordar Dom Villa:
Traga comida cheirosa e ponha na mesa.
Dom Salazár
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