Diário de bordo
do Capitão Salazár
do navio Las Hermanas
Dia 3
Provocações
Alma Negra e eu brindamos com sua tequila - depositada em um dos vasos orientais. E ficamos nesta frequência, a noite toda. Até que surge um novo Dom Salazár, sempre a andar cheio de lágrimas nos olhos. Creio que o sal do mar tenha invadido meus glóbulos, ou a fumaça parada dos charutos no ar, tenham me causado irritação nos mesmos.
- Posso pôr? - pergunta Alma Negra, com a garrafa em meu copo. Mas já estou vendo coisas onde elas não existem.
- Quieres por o que en mim, maricón de mierda? - esbravejo, irritado e vermelho.
- Macacos me mordam! - exclama Alma Negra.
Todos rindo de minha reação.
Soy Dom Juan Salazár, el bebado confuso.
Dom Villa siempre a comer todo o tipo de coisa. Parece que está viciado em prazer.
Alma Negra lhe dá intruções de como comer azeitonas:
- Não precisa comer os caroços, Pedro - e todos se matam de rir. - E outra coisa, quando acabar não precisa beber esta água - continua ele.
- Não queria sal, señor Pedro? - digo a ele, no que estamos com as barrigas doendo de uma série de gargalhadas doidas.
Alma Negra nos conta depois que estava passando com as azeitonas e viu que Pedro as olhava, com desejo. Foi a obrigado a parar ali e oferecer ao monstro insaciável.
Risadas sem fim.
Os homens do mar se divertem assim. Provocando uns aos outros. É preciso no entanto, o equilíbrio. Saber distinguir as brincadeiras de reais ofensas. Pois no fundo são todos amigos. Parece que esta noite Dom Salazár esteve bastante confuso sobre tudo isso. Chegou a tentar ir embora quando as provocações recairam todas sobre ele, durante um bom tempo da noite. Ele estava bêbado e lunatizado, e os outros brincavam com sua confusão.
Proponho a Alma Negra que façamos um pouco de música. De repente, não estou mais em seu barco. Estou sozinho, num palco empoeirado, com meu violão. Tocando as músicas de meu coração para a platéia vazia de um bar. Alma Negra está no fundo, de braços cruzados, a repetir que odeia a música lunar. Prefere, sem dúvida, as marítimas. Escondido atrás da porta, atrás de mim está Dom Villa, para me atacar de soslaio. El torero paniqueño me atinge com seus espetos. Caio no chão, sangrando. Os olhos queimando do sal do mar. Talvez ele esteja chorando - dizem os outros, sobre mim. Dom Villa me põe numa mesa e me prepara como jantar. Com maçãs e pimenta. Cortando-me os braços e pernas. Enfiando farofas de tempero em minha barriga aberta. Mierda, esta noite Dom Villa irá se fartar de minha carne temperada. Ele e os outros gordos deste barco.
Dom Salazár
Nenhum comentário:
Postar um comentário